Carlos Drummond de Andrade

É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

amor piscina

eu quero um amor piscina
para subir e descer de trampolins
a liberdade do pulo
a expectativa da queda amortecida

eu quero um amor mergulho
em que se afunda e simplesmente
se sai amando
e quanto mais profundo mais me deixe leve

um amor que faça um pulo "bomba"
eu quero fazer tchibum
que encharque todas as senhoras distintas dos meu receios
ao mergulhar me deixe sem ar
e me fascine com suas borbulhas

eu quero um amor colorido
como biquini de bolinhas
que me impeça de chegar à borda
não quero mais morrer na praia

eu quero um amor desses
a gente se joga
e sai amando sem querer
como agora.

A felicidade está no status da respiração.

Entre as gotículas de chuva, incomodava as vozes incorretas e o desejo por um clima mais constante. Ora sol, ora chuva, ora frio, ora suspiros. Queria eu ser novamente a inconstante. A folha amarela na árvore verde. Desembarcar na estação desconhecida. Sentar no meio da multidão para fotografar os pés apressados. Uma vez mais queria mudar. Mudar de dentro de si, mudar-se para outro alguém. Tatuar no guarda-chuva: Troca-se de coração. Temos sentimentos e disposição para passeios ao seu lado, mas acabou. Não mais perder os detalhes por me perder em seu nada. Nada além de mais uma ilusão. Um novo hidratante para mãos inseguras. A falta de ar de mergulhador amador. A felicidade está no status da respiração. Estou apenas respirando.