domingo, 25 de outubro de 2009

tédio em uma noite de verão

ela estava entediada.
saiu para não se arrumar.
se arrumou para não sair.

parecia verão.
desfavorecendo as recatadas.
ganhou olhares furtivos.

um queria abraços e mãos dadas.
outro queria sua pele
o terceiro queria exibí-la.

sempre sozinha afinal.
sempre a fachada
ninguem quer as chaves.

sábado, 24 de outubro de 2009

Desapego inventado

inventa rejeições
desinventa amores
vive de paixões diárias.
inventadas

por chocolate
por cabelos castanhos
por batatas fritas
tudo pela metade.

paixões ortográficas
leitor de Alice
um cantor de blues.
beijos dançantes.

nada permanece
nada surpreende.
não deixa ficar
falso desapego.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Leminski*

sorte no jogo
azar no amor

de que me serve
sorte no amor

se o amor é um jogo
e o jogo não é meu forte,

meu amor?


*Ocupação Paulo Leminski no ItaúCultural SP

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

blog action day #BAD09

eu buscava sombra e agua fresca
voce me trouxe tempestades

eu escrevo poemas e livros para você
voce se sente mutilado a cada árvore

eu tirei o seu ar
voce me deu calor.

voce mudou as estações
eu insisto no velho calendário

voce me diz que é o fim
que eu tenho que mudar

minha casa era sua casa
você quer ficar sozinho

Hoje eu começo a mudar
prometo demorar menos no banho
e voce me promete nos dar
mais uma chance?

voce é meu mundo
chega de sofrimento.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

entre vento e pingos

escolheu o vermelho retrátil.
saiu com vestido primavera.
na ecobag lentes fotográficas.

cinco passos e primeiros pingos.
subiu a rua como se fosse perto.
o vento a abraçou e tirou para dançar.

pra lá, pra cá,
pra lá, pra cá.
pingos e assobios.

molhou seus cabelos.
arrepiou sua pele.
provocou seus sentidos.

queria parar mas era desafiada.
em coreografia entre os pingos
suas pernas chegaram ao destino.

apertou o botão.
guardou a chuva.
emudeceu a melodia.

fim da chuva.
fim do vento.
aguardo recomeço.

Fingimentos

às vezes finjo não saber
para evitar mais perguntas.

de vez em quando finjo ser
para justificar minhas desculpas.

já fingi não escrever
só para me aproximar

já fingi mentiras
para saber verdades

já quis fingir não me perder
todas as vezes que te encontro.

mas minha especialidade é fingir que não finjo.
passo desapercebida. mudo o tom, desvio o olhar.
Achismos próprios descordado por outros

mas a verdade é que finjo completamente
essa verdade de sentimentos
que nem eu mesma acredito
fingir.
.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Nunca foi atendida.

Parece que ninguém consegue segurá-la.
Muitos tentaram, poucos entendem que seu gênio é independente e não o contrário.
Ela ouvia sempre. Seu carma. Homens caretas.
Ninguém parece enxergar que aquelas mãos delicadas escondem uma força inexplicável.
Às vezes, maioria das vezes, era como se algo a possuísse, e ela pressionáva-os contra o colchão, sofá ou parede, segurava-lhes as mãos, pescoço, outras seus cabelos, arranhava-lhes as costas e os beijava, mordia com voracidade. Os fracos ela dispensava fingindo ter sido dispensada. E poucos entendiam. Poucos restavam. Ela restava.

Ela queria ter dito que morre de vontade de fazer amor na varanda, na chuva e no terraço em noite de lua cheia.
O quanto ela te acha chato as vezes e o quanto ela te ama todas as outras.
Ela faz beicinho, queria dizer que não quer, que tem medo de que você suma sem explicações como os outros.

Tem medo de ter o corpo apertado contra o seu, olhar seus olhos claros, do seu beijo forte, sua mordida em seus lábios, pescoço e da sua língua alcançar sua orelha e ela perder as forças nas pernas, o chão e não conseguir abrir os olhos.
Sua orelha, sua vertigem, seu ponto fraco. Se segurar sua nuca com aquelas mãos gigantes e a beijar, ela não vai resistir, nem que quisesse, não poderia. Na verdade, ela nunca quis resistir.

Ela o amou desde a primeira vez que o viu com outra e se prometeu que aquele brilho nos olhos seria dela.
O amou até não suportar mais meus olhos opacos, chorando escondida, pedindo ao coração que o esquecesse.

Nunca foi atendida.

Ensaio: amor em trapézio

A idéia, por si, já alimentava de prazer os meus, até então apáticos, pensamentos.
Era como se enfim, pudesse caminhar nua por calçadas de multidões desconhecidas. Caminharia devagar, passo a passo, de salto alto e cabelos a cobrir parte de meus seios.
Enquanto caminhava até em casa pensando na idéia, já me sentia nua. A idéia me despertou os sentidos e podia sentir tudo ao meu redor. O cheiro de todos os homens que passavam por mim, o som grave de conversas furtadas sussurravam aos meus ouvidos e me arrepiavam a pele. Eu olhava a cada desconhecido com olhos lascivos e cílios dançantes. A idéia me encharcava de desejo a mente e quase sem querer mordiscava os lábios em busca dos sabores futuros.
Nao, eu não faço a menor idéia de como tudo irá começar ou como será. Essa ansiedade é que me deixa trêmula e livre para contar todos as vontades fantasiosas que ainda não tive. As palavras que me descreveriam sozinha passeando as mãos lentamente pelo corpo e dando cores e sons para minha carne. A curiosidade e a paixão me deixam enfim, viva.
Quero escrever experiências inventadas, ouvidas, vividas, pesquisadas, plagiadas. Convidar a experimentar, testar, confirmar e negar cada ato. Embriagar como um afrodisíaco literário.


Eu quero fazer amor em trapézios.

brand new day*

Dream
Send me a sign
Turn back the clock
Give me some time
I need to break out
And make a new name
Let's open our eyes
To the brand new day
It's a brand new day

They say that we're dreaming too big
I say this town's too small


*Lie to me. Brand New Day. Ryan Star.